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História 
VIAJANDO PELA HISTÓRIA | PORTO DE SANTOS

O Estivador Navalhada

Um dos fundadores do Sindicato dos Estivadores, Antoninho Navalhada se impunha perante outros portuários por esse fato e pela fama de valentão. Até que um colega o matou em um duelo no cais
Isto aconteceu em 24 de janeiro de 1959, no cais do Porto de Santos.

De um lado do ringue, o famoso respeitado Antônio André Carrijó, mais conhecido por Antoninho Navalhada, de 52 anos. Em outro canto, Simião Xavier de Oliveira, de 46 anos. Dois portuários valentões que andavam armados e não se bicavam.
Antoninho era um dos fundadores do Sindicato dos Estivadores de Santos.

Desde moço sempre trabalhou na profissão. Após tanto tempo de janela, escolhia o serviço que iria fazer. E de preferência, os melhores e mais rentáveis. E não bastasse a total independência, palpitava no serviço de outros.
Ex-pugilista, Simião era associado do Sindicato dos Estivadores, mas não integrava o grupo dos fundadores. Era um operário comum, como muitos outros.
Segundo os trabalhadores mais antigos, logo pela manhã, no dia 24, os dois já tinham discutido justamente por causa de rotina de trabalho. O motivo exatamente ninguém sabe com precisão. Graças a outros estivadores, a turma do deixa-pra-lá, o bate-boca terminou por ali. E assim imaginou-se que a história havia se encerrado.

Quem conhecia Navalhada sabia que não. Por volta das 10h15, coincidentemente, os dois voltaram a se encontrar na Avenida Eduardo Guinle, junto à antiga cantina 1, em frente ao Armazém 15, ao lado do canal que liga a Bacia do Mercado ao estuário.
Ali, Navalhada viu a chance de acabar com Simião. Foi logo sacando a arma e disparando. Alvejado na altura da virilha, Simião caiu no chão. Para zerar o tambor do revólver, Navalhada se aproximou do desafeto, mas foi surpreendido.
Deitado, Simião puxou a arma e abriu fogo. Atingido com uma bala no ventre, Navalhada tentou se afastar, buscando um refúgio. Não teve tempo. Simião mandou a bala da misericórdia. Desta vez, nas costas do inimigo.
Gravemente ferido, Simião tentou fugir, mas não conseguiu. Porém, teve tempo para se desfazer da arma, jogando-a no canal que ali passava. Logo em seguida, a ambulância apareceu para resgatar os dois. Com risco de perder a vida, Simião foi internado imediatamente na Santa Casa. Navalhada não resistiu, morreu a caminho do hospital.
Apesar do ferimento, Simião conseguiu sobreviver. Morreu muitos anos depois em Santos, por causa não apurada. Segundo testemunhas, nunca respondeu pelo crime porque não foi acionado judicialmente.


Todos comentaram o crime
A morte de Antoninho Navalhada causou muita repercussão na época. Durante dias, o fato foi o prato principal nas rodas de conversas na região central da Cidade. Paulo Osmar Davi, de 66 anos, trabalhava nas imediações do Mercado Municipal e soube pelo seu pai que Navalhada tinha morrido. "Ele veio de bicicleta dar a informação. Todo mundo ficou abismado. Os inimigos soltaram fogos naquele dia", diz ele, que mais tarde iria trabalhar na estiva.
O estivador aposentado Edson Oliveira tinha 17 anos na época. "Foi um rebuliço danado no cais", recordou Oliveira, de 68 anos. Sem Navalhada no Porto, o posto de valentão do cais era agora de Simião.
Antônio Paula de Souza, de 78 anos, recorda que passou no local pouco tempo depois dos tiros. "Estava um tumulto grande. Os dois eram cascas-de-ferida. Por muitos dias, todo mundo falou sobre o assunto. Até hoje, que eu saiba, a arma (jogada no canal) nunca foi encontrada".
Ruth de Almeida Lázaro, de 77 anos, esteve no sepultamento de Navalhada. Ela estava com o pai e o irmão no Cemitério do Saboó. Boa parte de suas família sempre trabalhou na estiva e alguns até conheciam os dois homens. "A matança eu não vi. Mas a notícia da morte foi como uma bomba. O assunto foi muito comentado".

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