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Opinião 

Comércio internacional, reshoring e a pandemia

Na sequência da pandemia, começa a falar-se muito dos benefícios do reshoring principalmente por parte dos políticos. No entanto, um estudo realizado pelas Universidades do Michigan, Yale e do Texas, estima que a contracção esperada no produto interno bruto provocado pelo Covid-19 seja de 31.5%, com cerca de um terço desta contracção a poder ser imputada a problemas nas supply chains. A parte interessante é que este estudo avança que, sem a componente do comércio internacional de componentes e produtos finais, a queda no produto interno bruto teria sido de 31.3%.

O reshoring ou a nacionalização das cadeias de abastecimento globais, regra geral não torna os países mais resilientes a contrações provocadas pela falta de mão de obra. Este estudo usou um modelo que mediu a produção em 64 países e 33 indústrias. A razão apontada para o resultado é que quando se deixa de depender do fornecimento de países terceiros passamos a depender de fornecimentos internos. Assim, o resultado vai depender de se saber como é que a cadeia de abastecimento que foi alvo de reshoring vai ser afectada pelas medidas de confinamento que sejam adoptadas e se vão ser mais ou menos apertadas do que nos parceiros comerciais.

Agora uma coisa é certa, o debate ainda está a começar, e não faltam indicações de políticos internacionais que dão a entender que tencionam abordar a questão. O Reino Unido, por exemplo, está, neste momento, a estudar a forma de como é feito o sourcing e como recebem os fornecimentos provenientes do resto do mundo, numa tentativa de estarem melhor preparados para choques futuros como os que sofreram nesta pandemia.

Segundo James Slack, em declarações à imprensa, «estamos a analisar que passos temos de tomar para garantir que temos cadeias de abastecimento mais diversificadas para evitar a disrupção de fornecimentos», pois a «pandemia demonstrou a importância de termos cadeias de abastecimento resilientes que possam garantir o abastecimento de bens essenciais e que consigam manter o comércio internacional em movimento».

Isto deve-se ao facto de ser conhecido que o Reino Unido enfrentou uma grande dificuldade em conseguir stocks adequados de equipamentos de protecção individual e de testes para o covid-19 devido à grande procura nos mercados internacionais destes produtos e à falta de alternativas locais para a sua produção.

Aliás, o jornal Times já tinha noticiado que organismos governamentais britânicos estavam a trabalhar em planos para reduzir a dependência do Reino Unido ao nível de medicamentos, dispositivos médicos e equipamentos de saúde provenientes da China. Estes mesmo organismos terão sido incumbidos de identificar as vulnerabilidades económicas britânicas em relação a países potencialmente hostis.

No mesmo sentido, o presidente francês Emmanuel Macron, anunciou medidas de apoio à indústria automóvel francesa. O plano deverá incluir forças de reshoring destas cadeias de abastecimento, incluindo a produção doméstica de automóveis eléctricos e movidos a hidrogénio.

A administração Trump, saudou a decisão este mês da Taiwan Semiconductor Manufacturing, que afirmou que tenciona investir 12 mil milhões de dólares para construir uma fábrica no Arizona.

O japonês Taro Aso afirmou que o seu país tem de aumentar a segurança das cadeias de abastecimento, mesmo que tal seja mais caro e que a economia tem de se preparar para uma segunda vaga.

Em sentido contrário, apenas o primeiro ministro Australiano, Scott Morrison, que afirmou que o país não se vai deixar enredar numa espiral proteccionista, e que continuam empenhados em fazer parte das cadeias de abastecimento globais que podem trazer a prosperidade necessária à criação de empregos, apoiar os rendimentos e ajudar no desenvolvimento de negócios.

Por outro lado, países como a Índia vêem nesta crise uma oportunidade para atrair indústrias que queiram abandonar a China. Nesse sentido, o governo indiano está a desenvolver uma área com o dobro do tamanho do Luxemburgo para atrair essas empresas. As Filipinas também esperam conseguir atrair empresas que queiram abandonar a China.

A verdade é que estas situações nunca são fáceis, nem de enfrentar nem de corrigir. Os próximos capítulos que em muitos países passam por subsídios às empresas nacionais, podem levar a futuras guerras comerciais.

A verdadeira questão é saber se quando a recuperação entrar em velocidade de cruzeiro, as nações que integram a Organização Mundial de Comércio não irão começar a impor taxas alfandegárias aos bens importados desses países como forma de compensarem as distorções à concorrência causadas pelos apoios concedidos pelos Estados.

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