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Ambiente 

O mar português como resposta à dor crónica. Sea4us desenvolve analgésico inovador

Substituto de morfina com algas marinhas e moluscos é retirado das águas da costa marítima nacional por investigadores portugueses. Esta é a segunda história de 20 empresas que já ganharam os fundos europeus do programa 2020.

Quem sofre de dor crónica sabe o cabo das tormentas em que vive. Mas a resposta pode estar no mar. Mais concretamente na costa portuguesa. A Sea4us, empresa de biotecnologia criada em 2013, está a desenvolver um novo analgésico para tratamento da dor crónica, utilizando princípios ativos para medicamentos a partir de organismos marinhos da costa marítima nacional. É a riqueza do mar, ainda mal explorada, que guia a empresa na identificação e seleção de espécimes marinhos com potencial, dentro de uma enorme biodiversidade. Pedro Lima, um dos investigadores da empresa, refere que a equipa passa “muitas horas com garrafas, muitas vezes apenas a observar a vida marinha. Mas este é sempre o primeiro passo.”

 

1,5 mil milhões

Pessoas que sofrem de doença crónica

Atualmente, a empresa tem como produto líder, ainda em desenvolvimento, um analgésico para a dor crónica, moderada ou severa, e que será uma alternativa aos medicamentos existentes, como os opióides, anti-inflamatórios ou anti-convulsantes. É que a dor crónica é uma síndrome que afeta 1,5 mil milhões de pessoas em todo o mundo, sendo que, até à data, não existe um tratamento eficaz que não inflija efeitos secundários significativos aos doentes, que se debatem com constrangimentos sérios em termos físicos, psicológicos, sociais e económicos. Só para dar um exemplo, o peso direto, e indireto, da economia portuguesa relacionados com a dor crónica representam quase 3% do Produto Interno Bruto.

 

Sagres e Lisboa: os pólos das descobertas
O analgésico em desenvolvimento pela Sea4us tem origem num invertebrado marinho presente no nosso mar e que vai atuar especificamente numa proteína localizada nos gânglios neuronais situados fora da coluna vertebral e que constituem uma espécie de interruptores que ligam o sinal da dor ao cérebro. Segundo Pedro Lima, “o modo de ação é de grande eficácia e efeitos secundários vestigiais e não é esperada qualquer habituação ou dependência, uma vez que não atua no cérebro. Estes compostos serão, posteriormente, licenciados a grandes empresas farmacêuticas, que depois os desenvolverão até à sua entrada no mercado.”

A Sea4us é composta por um grupo de cinco investigadores, um gestor, um financeiro e uma advogada, e surge a partir da atividade científica do laboratório de Pedro Lima e da participação do programa Cohitec. Assenta em dois grandes pilares, a biologia marinha e a neurofarmacologia, o que justifica a existência de dois pólos. Um em Sagres, onde se desenvolvem as atividades de mergulho, e outro na NOVA Medical School/Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, onde são concretizados os testes de neuroatividade. A empresa já obteve dois vales do QREM e um projeto do PROMAR, prevendo que as candidaturas ao Portugal 2020 e INTERREG possibilitem o financiamento de todas as atividades por um período de dois a três anos.

2016-01-26 17:37
Miguel Ângelo Pinto, Expresso (on-line)