História

ALGO MAIS QUE UM PARAÍSO!

Empatia pelos brasileiros

Um grupo de 15 estrangeiros desembarca no porto do Rio de Janeiro em Abril de 1865 para estudar os peixes da Amazónia. À frente está o naturalista suíço Louis Agassiz, acompanhado de sua mulher, Elizabeth Cary Agassiz, um artista, um aprendiz de fotógrafo e uma trupe de cientistas e estudantes. Entre tantos estudiosos, um americano chamado William James, académico de medicina de 23 anos, pode ter passado despercebido. Mas aquela viagem é considerada uma importante influência na obra de James, que fundou, nas décadas seguintes, a teoria filosófica do Pragmatismo – cada indivíduo, em contacto com a realidade, seria capaz de testar e escolher os pensamentos que melhor respondessem aos problemas colocados pelo mundo exterior.

A aventura liderada por Agassiz ficou conhecida como Expedição Thayer – nome do mecenas que a financiou –, estendeu-se de abril de 1865 a julho do ano seguinte e passou por várias regiões do Brasil: desde Minas Gerais até o Nordeste e a Amazônia. Ela foi orientada pela teoria criacionista – que acreditava que o mundo era estático e se mantinha inalterado desde sua criação original por Deus –, defendida pelo naturalista suíço, diretor do Museu de Zoologia Comparada e professor da Universidade de Harvard, que se opunha à teoria da evolução de Charles Darwin.

Apesar de participar da expedição, William James discordava das doutrinas de Agassiz, e, já no Brasil, questionaria alguns estereótipos sobre os trópicos que eram comuns nesse tipo de viagem. De tudo o que o então estudante produziu durante o período que passou aqui – cartas para a família, uma curta narrativa da viagem ao Rio Solimões, um diário e desenhos –, conclui-se que já estavam sendo formados alguns dos princípios que deram origem ao Pragmatismo, que foram sumarizados em muitos livros, entre eles Pragmatismo – Um nome novo para velhas formas de pensar (1907).

A leitura de algumas cartas escritas por James em seus oito meses de estada no Brasil – ele voltou a Nova York em dezembro de 1865, sete meses antes do fim da expedição –, pode-se sugerir que sua visão era a mesma da maioria dos viajantes que exploravam os trópicos no século XIX, mas não é bem assim. Entre os sentimentos e emoções manifestados na correspondência de James estão seus momentos de tédio e dúvida, sua vontade de voltar o mais rápido possível para casa e seu mau humor em relação à morosidade dos nativos. Como se não bastasse, ele ainda contraiu varíola no Rio de Janeiro, logo no início da aventura, o que o deixou temporariamente cego e o indispôs por meses contra a viagem e tudo o que o cercava.

Em alguns momentos, James sucumbiu à exotização, comum entre os viajantes, como na carta enviada em julho a seu irmão, o romancista Henry James, endereçada da “sede original do Jardim do Éden”, como ele chamava o Rio de Janeiro. Na verdade, ele se referia à Floresta da Tijuca. Ao descrever a natureza tropical, ele cita todas as imagens do repertório padrão: “Nenhuma palavra, apenas selvagens e inarticulados uivos podem expressar a beleza estonteante da caminhada que estou fazendo. Ulalá! A desconcertante profusão e confusão da vegetação, a inesgotável variedade de suas formas e colorações (...) são literalmente tal como você nunca sonhou. O brilho do céu e das nuvens, o efeito do ambiente (...) faz com que você admire a velha senhora natureza”.

Na mesma carta, James mantém o tom exotizante e se refere aos moradores locais como parte naturalizada da paisagem: “À minha esquerda, em cima do morro surge a impenetrável e inextricável floresta; à direita, o morro mergulha em um tapete de vegetação que alcança além do morro e o qual, mais à frente, ascende de novo em montanha. Abaixo, no vale, contemplo três ou quatro cabanas de barro e cobertas de palha dos negros, cercadas por vívidos conjuntos de bananeiras”.

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