História

VIAGENS DE CIRCUM-NAVEGAÇÃO

A construção da rede de informações

Uma característica das viagens de circum-navegação consistia no facto dos expedicionários permanecerem pouco tempo nos lugares em que aportavam, porque o interesse primeiro era mapear costas e reconhecer portos. Eram viagens muito bem planeadas, em virtude dos seus altos custos e dos riscos enfrentados. Por isso e também devido ao facto de os navios permanecerem por tempo reduzido em determinados portos, exigia-se a construção de uma rede de trocas e informações entre oficiais, cientistas, cônsules, missionários e outros para o bom resultado da viagem.

É importante acrescentar que, embora muitas das informações coletadas fossem segredos de Estado e controladas rigorosamente pelo capitão do navio, muitas outras eram tornadas públicas – publicadas ou não – e compartilhadas pelos navegadores dos diferentes Estados. O Secretário da U. S. Navy, já citado, informa a Charles Wilkes sobre a importância das informações obtidas através do comandante russo Krusenstern nas instruções para U. S. Exploring Expedition:

O russo, vice-almirante Krusenstern, transmitiu ao Departamento de Estado memorandos relatando as finalidades da Expedição, juntamente com muitas das cartas aperfeiçoadas do seu Atlas do Oceano Pacífico, com explanações, em três volumes. Esses materiais estão também confiados aos seus cuidados; e não há dúvidas de que as amistosas contribuições desse eminente navegador contribuirão essencialmente para o sucesso de uma empresa na qual ele deposita profundo interesse.

Os encontros e as trocas entre os oficiais de nacionalidades diferentes eram comuns. O próprio Charles Wilkes (na foto de topo), antes de zarpar no comando da expedição, recebeu ordens para que despendesse alguns meses em Londres a fim de providenciar a compra de aparelhos de alta precisão e, por outro lado, estabelecer contatos com os oficiais que haviam realizado viagens como a que ele estava autorizado a executar. Lá, manteve contato com membros das associações científicas inglesas e com eminentes cientistas locais, como o matemático e físico inglês Peter Barlow, grande especialista em atração magnética do período, e também Francis Baily, astrônomo e um dos fundadores da Royal Astromical Society. Esteve também com o capitão Robert FitzRoy, oficial já citado, que acabara de voltar à Inglaterra no comando do Beagle.

Na época, embora os Estados Unidos fossem um pequeno país, com esforços voltados para a construção do Estado Nacional e a expansão do seu território, preocupavam-se também em ter acesso aos recursos científico-tecnológicos utilizados pelos europeus. Além das trocas de informações científicas, contatos eram feitos entre os governos que financiavam a expedição e os portos que recebiam os navios. Afirmou Wilkes:

Eu recebi todos os recursos para obter informações dos nossos cônsules, como dos missionários e dos residentes norte-americanos fora do país. Alguns deles supriram a mim com interessantes documentos, relacionados ao passado e ao presente estado dos países nos quais eles residem e procurei obter dos diferentes governos muitos papéis oficiais valiosos. Na realidade, as facilidades encontradas evidenciaram o interesse de todos no empreendimento do qual estava encarregado.

Para o êxito da viagem, foi desenvolvida uma rede de contatos entre Europa e Estados Unidos e entre estes e os países visitados: eram homens que atuavam como intermediários e facilitavam a permanência dos navegadores – mesmo que por pouco tempo – nos países onde ancoravam. Embora rápidos, esses intercâmbios influenciaram tanto os visitantes quanto os intermediários, cientistas e governos dos países visitados, favorecendo transformações, apropriações e reavaliações de ambos os lados.

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