História

Mais de 100 espécies fizeram um lar deste navio naufragado há 2.200 anos

Além de nos ligarem ao passado, os naufrágios proporcionam-nos tesouros muitas vezes inimagináveis. Recentemente, foram encontradas mais de 100 espécies animais distintas num navio naufragado há 2.200 anos.

Em meados do século III a.C., Roma e Cartago estiveram em combate. A primeira Guerra Púnica começou em 264 a.C., na Sicília, e prolongou-se durante 23 anos, com a República Romana a sair vitoriosa. Seguiram-se mais duas guerras que terminaram com o domínio romano sobre o Mar Mediterrâneo.

Recentemente, investigadores descobriram um navio afundado durante a primeira destas três guerras – uma embarcação que estava a explodir de vida marinha.

“Os naufrágios são frequentemente estudados para acompanhar a colonização por organismos marinhos, mas poucos estudos se concentraram em navios que se afundaram há mais de um século”, disse Sandra Ricci, do Istituto Centrale per il Restauro (ICR), em Roma, citada pelo Ars Technica.

“Estudamos, pela primeira vez, a colonização de um naufrágio durante um período de mais de 2.000 anos” e “mostramos que a embarcação acabou por acolher uma comunidade muito semelhante ao habitat circundante, devido à ‘ligação ecológica’ – livre circulação por espécie – entre ela e o meio envolvente”.

A equipa descobriu, na superfície do restos do navio afundado no Mar Mediterrâneo, uma grande variedade de organismos marinhos que colonizaram o rostro de bronze da embarcação, um prolongamento na parte da frente que tinha a função de danificar os navios inimigos no impacto.

O artigo científico, publicado na Marine Ecosystem Ecology, detalha que pelo menos 114 espécies de invertebrados marinhos colonizaram a superfície do navio ao longo dos mais de 2.000 anos.

Mais de 50% das espécies eram moluscos. Destes, 33 espécies eram de gastrópodes e 25 eram bivalves.

Também foram encontradas no navio 33 espécies de vermes Polychaeta e 23 espécies de briozoários, organismos simples semelhantes a poríferos.

Depois de compararem estas descobertas com as espécies encontradas naturalmente em habitats mediterrânicos, os cientistas deduziram “que os principais ‘construtores‘ nesta comunidade são organismos como os vermes Polychaeta, briozoários e algumas espécies de bivalves”.

“Outras espécies, especialmente os briozoários, atuam como ‘aglutinantes’: as suas colónias formam pontes entre as estruturas calcárias produzidas pelos construtores. Também há os ‘habitantes’, que se movem livremente entre as cavidades na superestrutura”, explicou Edoardo Casoli, da Universidade Sapienza de Roma.

“O que ainda não sabemos exatamente é a ordem pela qual estes organismos colonizam os destroços”, rematou.

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