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PORTUGAL

Aquacultura já vale 54 milhões. E há todo um mar de oportunidades

Dez milhões de euros de investimento só em 2014. A produção de peixe e bivalves de aquacultura não para de crescer em Portugal e vale já mais de 54 milhões de euros.

A maior parte para exportação. Um número que poderia ser multiplicado por dez “se fossem aproveitadas as marinas abandonadas” em todo o país. É um mercado “com grande potencial”, defende Fernando Gonçalves, secretário-geral da Associação Portuguesa de Aquacultores (APA).

Portugal é o terceiro maior consumidor mundial de peixe (55 kg por pessoa/ano), só atrás da Islândia (91 kg) e Japão (66 kg) – a média mundial é de 19,2 kg/ano. Para dar resposta à crescente procura, Portugal é obrigado a importar pescado, na sua grande maioria de aquacultura, devido às limitações à captura de espécies selvagens.

A aquacultura está a crescer ao ritmo de 6,2% ao ano, totalizando já mais de 66,6 milhões de toneladas, de acordo com os últimos dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). Os números em Portugal são ainda pouco expressivos – a produção de aquacultura totalizou, em 2013, qualquer coisa como dez mil toneladas. Mas poderá chegar facilmente às cem mil toneladas.

Para isso, bastava que “fossem aproveitados os cerca de seis mil hectares de salinas abandonadas”, garante Fernando Gonçalves. É preciso agilizar o burocrático e demorado processo de licenciamento, que tem custos altos para quem quer investir, bem como a falta de ordenamento do território, defende.

“Um investidor que queira abrir uma exploração, muitas vezes não sabe a quem se dirigir, tal é a dispersão de organismos”, refere o secretário-geral da APA, lamentando ainda o tempo de espera para aprovação dos fundos comunitários.

Ultrapassando todos os obstáculos, entre 2007 e 2014, contabilizaram-se, no âmbito do Programa Operacional Pesca, 48 novos investimentos na aquacultura, num total de dez milhões de euros, de acordo com um estudo da SGS Portugal Group, empresa de certificação de qualidade.

E os resultados já estão à vista: no final de 2013 verificou-se um aumento de 62,6% da área total licenciada para exploração, devido à autorização de novos estabelecimentos em mar aberto, com áreas de ocupação muito alargadas. Um aumento que “ainda não se repercutiu na produção, porque os estabelecimentos [1522 no total] são licenciados num ano e só começam a produzir passado um ano e meio a dois anos”.

Ria Formosa, Alvor, Aveiro e Sado são das áreas com grande potencial. A produção de peixe em águas salobras e marinhas é a mais importante, pesando 41,9% da produção da aquacultura. Na sua esmagadora maioria (85%) dourada e pregado para exportação, afirma Fernando Gonçalves.

Mas os moluscos bivalves são cada vez mais uma atividade economicamente interessante. As amêijoas são a espécie mais relevante, mas a produção de mexilhões quase duplicou desde 2012, somando 1547 toneladas. E as ostras têm uma crescente importância económica, produzindo-se já dezenas de toneladas destinadas à exportação, sobretudo para França.

Pescadores de aquacultura Um berço de ostras chamado Bivalvia. Criada em 2010, a Bivalvia iniciou a produção com um berçário (nursery) de ostras em março de 2013. As vendas arrancaram três meses depois.

No ano seguinte concretizou a instalação dos viveiros na ria Formosa e em Aveiro, num “investimento de centenas de milhares de euros”, recorda Rui Moreira, o responsável da empresa. Nos planos da Bivalvia, com sede em Olhão, está uma maternidade (hatchery). Atualmente, vende ostras bebés para 50 produtores, a maioria espanhóis, que depois as fazem crescer, quase todas para exportação. Nestas cordas quem cresce é o mexilhão.

A Testa & Cunhas foi criada em 1927 na Gafanha da Nazaré. Em 2012, o governo atribuiu-lhe, por 30 anos, a concessão offshore de 395 hectares, a Algarve Offshore Seashells, a uma milha ao largo de Lagos, na costa algarvia, para a produção de ostra, vieira, mas sobretudo mexilhão.

Colocadas as sementes nas cordas de algodão, a sua recolha é feita quando atingem os 7 e 10 cm. Com 5300 cordas instaladas, a produção pode, segundo o administrador António Miguel Cunha, ir às mil toneladas, vendidas para França, Espanha e Irlanda.

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